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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

CRIADO-MUDO, por ALEXANDRE MEIRA (POEMA)


 



Ouvi de você:

Cubra espaços,

preencha vazios.



Então, fui.

Haja veneno letal,

escorrida gota,

corroída parede,

derrubada coluna,

toda forma derretida

foi cavada trilha

de seu criado-mudo,

até cair.

Segui corrente

ígnea.

Destruí a hemácia

vadia.

Matei o leucócito

no cio.



Cada molécula,

briga o veneno,

             calcina.

Deixou pasta

que não passa do ralo,

acumulado no fundo,

não vencido gargalo.

Varrido tapete abaixo,

à tapa e cassete:

Fiquei.



Aí, sim,

depois de seco,

sei que

poderás contar comigo,

             cobrir o buraco,

reboco de parede,

calço de cama quebrada,

livro que nunca leu.


Até morrer duas vezes 

na sua mesa de cabeceira:

Duendes,

crucifixo,

e eu,

assim fala o Feng Shui.



Só assim descansaremos em paz,

ao observarmos tudo que jaz,

até certo dia,
em que hei de amolecer,

virar novo veneno,

violado,

vazio,

voraz,

e vermelho.

Hei de sangrar sempre

ao ouvir de você,
pra descer rápido,

ácido escorrido,

cavar,

corroer,

derrubar,

e cobrir 

qualquer espaço vago,

que seja,

do seu ego.

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