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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Xadrez do Hommer Simpsom e o Desmonte Nacional II, por Akrx.

1.  o reacionarismo brasileiro é atávico. desde que o Brasil é Brasil. não nascemos como nação, e sim como empresa exportadora. nosso berço não é a luta de libertação nacional, e sim a escravidão. o que esperar de uma sociedade constituída sobre estas bases?
2. a web apenas amplificou a visibilidade, e portanto retroalimentou, um fascismo latente, mas sempre fortemente presente no tecido social brasileiro. jamais superamos a escravidão, os documentos foram queimados e os “senhores de escravos” receberam indenização pelo prejuízo lhes causado com a “libertação de sua peças”;
3. em nossa História jamais enfrentamos com determinação o elitismo, o autoritarismo, o racismo, o moralismo e a repressão, todos herdados de nossas raízes fundadas na escravidão. foi assim com a Lei da Anistia, e depois com a Comissão da Verdade. foi assim com a não auditoria da privataria tucana, e depois com o abafamento da operação Satiagraha. e está sendo assim agora, com a opção da maior parte da Esquerda pela não resistência ao golpe nas ruas, como se fosse possível derrotar os golpistas apenas dentro de uma lógica eleitoral pautada por eles;
4. mas o reprimido sempre volta. volta como sintoma de alguma patologia. precisa ser enfrentado e transformado. seja no plano individual ou social, sempre se trata de uma guerra. de uma guerra de libertação, seja de pessoas ou de nações. nossa recusa em enfrentar nossos mais nocivos problemas, nos torna pessoas doentes numa sociedade doente;
5. da mesma forma que na web os múltiplos nichos fechados da Direita e do fascismo se reforçam mutuamente, numa produção incessante de pós-verdade, ocorre exatamente o mesmo mecanismo nos ditos sites de “Esquerda”. são redomas virtuais e grupos sociais que obedecem ao mesmo recorrente padrão. segregam o contraditório, interditam o debate, cultivam o maniqueísmo, exercem a violência. os estreitos círculos de giz são inimigos do diálogo, da conexão e, portanto, de uma sociedade plural e libertadora;
6. no processo político recente brasileiro, primeiro PT x PSDB, depois lulismo e anti-lulismo, coxinhas e paneleiros x Dilma Bolada e Amigos do Presidente Lula, são posições políticas que se alimentam uma das outra. reforçam-se mutuamente, paralisando o Brasil em meio a uma travessia, obrigando a sociedade a girar em círculos numa falsa encruzilhada. um pensamento binário que nega uma realidade complexa. ao se desconectar da realidade, por negá-la, o que foi reprimido retorna como sintoma de um tipo de Alzheimer político;
7. mas assim como os organismos, as sociedades tendem desesperadamente a autoregeneração. nosso desejo é desejo de vida, de conexão, de liberdade. é preciso doses monumentais de repressão para que acabemos desejando nossa própria morte. e isto sempre cobra um preço muito mais alto do que podemos pagar. os indivíduos adoecem precocemente, as sociedade se auto destroem em guerras e genocídios;
8. nenhuma Nação conquista a si mesma sem uma guerra de libertação. vivemos agora no Brasil uma guerra deste tipo. não vai ser com a negação de nossos erros que nos capacitaremos para vencer esta guerra. não vai ser nos escondendo confortavelmente em grupos fechados, na web ou não, onde apenas lambemos as feridas uns dos outros, sem nunca encararmos de frente aquilo que precisamos superar. não haverá qualquer futuro para nós na auto complacência, na auto indulgência, na auto comiseração e no mútuo enaltecimento de nossos enganos e fracassos;
9. toda esta destruição e todo este sofrimento terá sido em vão? ou chegou a vez de encerrarmos nosso exasperante ciclo de duro aprendizado? haverá novos tempos. mas dessa vez, não faremos prisioneiros. só a antropofagia nos une!
10. feliz Ano Novo!

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