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terça-feira, 13 de junho de 2017

OVELHAS, por ALEXANDRE MEIRA (Poema).


 

Dessa vez não recitarei

as mesmas cantilenas ao pastor

nem deitarei os erros ao abate

como ovelhas corridas à toque de sino



Dessa vez, não.



Quem mais gritaria pelo corpo das putas?

ou as tangeria sob à luz de becos maculados?


Quem seria Savonarola arrependido

por não ter gozado na alcova

da arte nascida do corpo oprimido?


Fazer queimar quem ateia o fogo

é para quem quer fazer pura 
a água que já nasce limpa.



Quem negaria às ovelhas que nossa alma é feita de sangue?



Até que assolados por todas as memórias

ouvirão o grito de horror da nua intimidade,

pois o fio da navalha sempre gelará o rebanho

que morrerá aos berros por ter de morrer sempre.



Saiba que o doutrinador nunca adormece seus próprios sonhos

assim como a doce vestal esfrega o lençol entre as pernas.



Cansei de servir ao escapulário.

Não que houvesse mágoa,

mas quero o cordeiro de olhos bem abertos.

Despregado e sem cerimônias,

para que possamos beber uma cerveja.

E colocar em prática nosso eterno plano

de implodir sob chamas

o cadafalso do Campo dei Fiori.


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